domingo, 24 de janeiro de 2010

LITERÁRIOS

MINHA QUERÊNCIA
Edílio Soares Fonseca


Minha querência naco crioulo do Rio Grande
pedaço amigo desse imenso Brasil
das verdes coxilias e céu cor de anil
amo-te tanto terra querida
que por mais distante que ande
trago sempre na retina gravada
a tua imagem que jamais será esquecida

A seiva verde do chimarrão
que se serve com paciência
é o sangue generoso da querência
herdado dos antepassados guaranis
que legaram ao gaúcho sua indômita coragem
meu rincão querido do pampa
de muitos heróis e derradeira campa
estremecida terra onde nasci

Este recanto onde pela primeira vez
do luminoso cruzeiro eu vi a luz
e onde a hospitalidade reluz
peço a Deus me deixar por aqui
e o progresso e o modernismo
a riqueza e o desenvolvimento
não deixem cair no esquecimento
a fidalguia da minha Gravataí.


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TEMPO DE CRIANÇA
Faustino Alves Filho


Hoje vi uma criança catando comida no lixo,
Eu também já fui criança
E sei o que é a dor da fome
Dói no estômago, nos olhos, no peito e na alma

Hoje eu vi uma senhora batendo em uma criança,
Talvez seu filho, talvez não
Eu sei o que dói a dor de levar um tapa,
Eu também já fui criança,
Dói no corpo, cicatriza na mente, fere o peito e fere a alma

Hoje eu vi pais aconselhando filhos,
Com o dedo em riste e palavras baixas,
Sei o que dói ouvir uma ofensa de quem mais se ama,
Eu também já fui criança,
Dói nos olhos molhados, humilha, causa ódio passageiro

Hoje eu vi crianças indo à escola, bem arrumadas,
Caminhando e conversando calmamente,
Eu também já fui criança e aprendi muito, com todos,
Não maltratemos a criança de ontem que ainda vive em nós,
O mundo ainda tem salvação,
Todos já fomos criança.